E aqui vai a minha terceira dica de filme: Hable con ella e Los abrazos rotos (2002), de Pedro Almodóvar. E por que tais filmes, e não Volver,
Mala Educación, Mujeres al borde de un ataque de nervios, Todo sobre mi madre o
La piel en que habito? Então, porque de todos estes filmes que já assisti deste famoso cineasta espanhol, Hable con ella e Los Abrazos rotos foram os que mais me emocionaram.
Já indiquei duas produções hollywoodianas e achei que agora
indicaria uma mexicana, devido o meu amor pelo México, porém, há alguns anos
ando muito “flamenca”, muito “espanhola”, logo, não poderia deixar de mencionar pelo menos dois filmes espanhóis que me encantaram profundamente: por sua
extrema carga poética em linguagem audiovisual e a presença de mulheres fortes,
decididas, uma marca das produções de Almodóvar, um dos meus cineastas
favoritos, depois de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Talvez seja o meu inconsciente que por tanto ter estudado a obra de um espanhol e que por tanto tempo ministrou aulas de tal idioma, acabou se interessando pela Espanha, por esse país tão enigmático. Ele tem um "q" que não entendo, que me intriga, que me atrai.
Mas vamos aos filmes, vale? Quanto ao premiadíssimo Hable con ella, Oscar de Melhor Roteiro Original (2003) e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro (2003),
acredito que depois que cursei uma disciplina do Mestrado, “amor, paixão e
ódio: as três paixões do ser” este filme veio à tona, afinal o que é amor? A
paixão? E o ódio? O que os une e os afasta? Há algum ponto de contato entre eles?No amor vale tudo?
Então, vamos ao primeiro filme, Hable con ella, que conta a história de dois personagens que não se
conhecem, Benigno Martín (Javier Cámara) e Marco Zuluaga (Dario Grandinetti) que se sentaram um do lado do outro, casualmente, numa sala de espetáculos
para assistir “Café Muller” de Pina Bauch, interpretado pela própria. O filme
já começa sob uma atmosfera de extrema poesia, com mulheres, se eu não me engano duas,
vagueando por um café cheio de cadeiras, que parecem que vão tombar a qualquer momento, numa quase
lenta agonia como se estivessem esperando a morte chegar.
Benigno é um dos enfermeiros responsáveis por uma paciente que
está em coma profundo há vários anos (uma bailarina clássica de nome Alicia, interpretada por leonor Watling, que ele via
ensaiar todos os dias, desde a janela de seu apartamento que dava de frente para o
estúdio de ballet que ela dançava), e é nesse mesmo
hospital que conhecerá Benigno que vela por sua namorada também em coma, a
toureira Lydia Gonzáles (interpretada pela magnifica cantora espanhola Rosário
Flores) que foi ferida por um touro em plena arena.
Marco descobrirá do amor de
Benigno por Alicia há anos, e também que sua própria namorada planejava
deixá-lo para volta com um ex-namorado. Com isso, Almodóvar explora a relação
entre o feminino e o masculino e o próprio amor, já que Benigno ao violar Alicia
(em coma) a engravida, gera o feminino, mas com que direito? Alicia saí do
coma, mas o bebê nasce morto, e Benigno na prisão, cumprindo pena pelo ato que
havia feito em contra de Alicia, suicida-se ao ver que seu amor não é possível,
enquanto que Marco assume a vida que sempre quis ter, apaixona-se por Alicia.
Fica bem claro as questões morais que o filme levanta e que são
de difícil resposta. O amor justifica o ato de Benigno? Seria ele um
pervertido? E se Alice tivesse tomado conhecimento do que passou o teria
perdoado? E Marco tinha o direito de se envolver com Alicia, vivendo a vida que
Benigno sempre havia sonhado? A resposta fica a critério do espectador.
Já sobre Los Abrazos rotos, que
assisti somente este ano em um canal de tv por assinatura, me emocionei muito com
a história do escritor e ex diretor de cinema Mateo Blanc (Lluís Homar) que há
14 anos, na época em ainda usava o seu nome verdadeiro, e trabalhava como
roteirista, teve um grave acidente em Lanzarote que lhe fez perder a visão e o
seu grande amor, Lena (Penélope Cruz), uma atriz. Tamanho foi o seu pesar que
ele passou a usar o nome e adotar a existência que tinha escolhido no mundo
literário, Harry Caine, com o intuito de esquecer do seu passado como Mateo. Há
um elemento chave: quando Lena morreu, deixou um filme inacabado, “Chicas y
maletas”(uma espécie de auto-homenagem ao seu outro filme, Mujeres al borde de um
ataque de nervios) que fora estreado se
a devida edição feita por Mateo, já que este e Lena haviam tido um caso,
enquanto ela era casada com um dos empresários do filme, Ernesto Martel. Que
para se vingar fez o filme estrear totalmente mal-editado. Entretanto, depois
desses 14 anos, com a ajuda de sua antiga e fiel diretora de produção Judit
Garcia (Portillo) e de Diego, filho desta, seu secretário, as tomadas
devidamente corrigidas foram parar novamente nas mãos de Mareo, podendo fazer jus aquela última obra, em que aparecia a sua querida amada Lena.
Não há humor e intriga um marca nos filmes de Almodóvar, mas
muito melodrama, o que talvez tenha me chamado a atenção e tenha feito com que
eu gostasse muito deste filme, depois da decepção que para mim foi Volver. Sim,
não gostei desse filme, mas sei que muitos o consideram uma obra- prima assim
como Hable con ella. Entretanto, gosto é assim, não se discute, há que respeitar a
opinião, como se fiz em espanhol "los gustos están para los colores", o que não se pode é nem ver determinado filme, nem ler determinado livro, por exemplo, e já criticar, dizer que
não gosta. Sempre opto por assistir e daí tirar a minha conclusão.
Por tal motivo, indico não somente Hable con ella e Los Abrazos rotos,
mas também os demais filmes de Almodóvar, apesar de dar destaque aos que mencionei neste post. Almodóvar é um grande cineasta que
sempre traz mulheres protagonistas, fortes, a intriga mas sem perder o humor, e
por que não o melodrama mas sem parecer piegas. Sempre vejo no final de cada
filme seu uma “moral”, melhor dizendo, uma reflexão sobre o que foi contado ao longo
da obra.
Fica aqui mais esta #SuperDica.