sábado, 22 de junho de 2013

Dica de filme: "O sorriso de Mona Lisa"

  De volta ao blog depois de uma semana afastada, deixo aqui mais uma #SuperDica, só que desta vez de um filme que assisti na época em que eu ainda estava na Graduação e que gostei muito: "O sorriso de Mona Lisa" (2002). Este belíssimo filme com a estonteante Julia Roberts, ambientado na década de 50, conta a história de Katharine Watson (Julia Roberts) uma recém -graduada professora  que consegue emprego no conceituado Colégio Wellesley (instituição famosa por preparar jovens para a vida matrimonial e de dona de casa), para ministrar aulas de História da Arte. Entretanto seu trabalho na escola não será fácil, pois assim como o professor do filme "A Sociedade dos poetas mortos", Katharine também fica incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que trabalha, e inicia uma luta contra essas normas. Atitude esta que acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios da vida sem estar necessariamente à sombra de um homem, em uma sociedade marcada por paradigmas machistas da época. 



                                                                         #SuperDica

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Gustavo Adolfo Bécquer e suas belíssimas rimas

E no dia de hoje em que se celebra o Dia dos Namorados, eu não poderia deixar de comentar sobre um dos meus poetas favoritos: o mestre Gustavo Adolfo Bécquer e suas belíssimas rimas. Por tal motivo, compartilho o link de um resumo de minha autoria sobre este grandioso poeta, considerado um dos grandes nomes do "Romantismo Tardio" da Espanha.


#SuperDica

    E ainda compartilho algumas de suas bellísimas rimas:

I
Yo sé un himno gigante y extraño
que anuncia en la noche del alma una aurora,  

y estas páginas son de ese himno

cadencias que el aire dilata en las sombras.

Yo quisiera escribirle, del hombre
domando el rebelde, mezquino idioma,

con palabras que fuesen a un tiempo

suspiros y risas, colores y notas.

Pero en vano es luchar; que no hay cifra
capaz de encerrarle; y apenas, ¡oh, hermosa!,

si, teniendo en mis manos las tuyas,

pudiera, al oído, cantártelo a solas.



II
Saeta que voladora

cruza, arrojada al azar,

sin adivinarse dónde
temblando se clavará;


hoja que del árbol seca
arrebata el vendaval,

sin que nadie acierte el surco

donde a caer volverá;


gigante ola que el viento
riza y empuja en el mar,

y rueda y pasa, y no sabe

qué playa buscando va;



(...)
IV



No digáis que agotado su tesoro,

de asuntos falta, enmudeció la lira;

podrá no haber poetas; pero siempre
habrá poesía.


Mientras las ondas de la luz al beso


palpiten encendidas;

mientras el sol las desgarradas nubes

de fuego y oro vista;
mientras el aire en su regazo lleve


perfumes y armonías;

mientras haya en el mundo primavera,

¡habrá poesía!


Mientras la ciencia a descubrir no alcance


las fuentes de la vida,

y en el mar o en el cielo haya un abismo

que al cálculo resista;
mientras la humanidad siempre avanzando


no sepa a do camina;

mientras haya un misterio para el hombre,

¡habrá poesía!


Mientras sintamos que se alegra el alma,


sin que los labios rían;

mientras se llore sin que el llanto acuda

a nublar la pupila;
mientras el corazón y la cabeza


batallando prosigan;

mientras haya esperanzas y recuerdos,

¡habrá poesía!


Mientras haya unos ojos que reflejen


los ojos que los miran;

mientras responda el labio suspirando

al labio que suspira;
mientras sentirse puedan en un beso


dos almas confundidas,

mientras exista una mujer hermosa,

¡habrá poesía!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Dica de livro: "Por qué se ataca a la Gioconda" de Salvador Dalí

Resumo de minha autoria e escrito em Língua Espanhola sobre o livro "Por qué se ataca a la Gioconda" de Salvador Dalí. Dalí que foi um dos grandes representantes da pintura surrealista, mas que também se enveredou no mundo da literatura.  

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Dica de filme: "Hable con ella" e "Los abrazos rotos" de Pedro Almodóvar

      E aqui vai a minha terceira dica de filme: Hable con ella e Los abrazos rotos (2002), de Pedro Almodóvar. E por que tais filmes, e não Volver, Mala Educación, Mujeres al borde de un ataque de nervios, Todo sobre mi madre o La piel en que habito? Então, porque de todos estes filmes que já assisti deste famoso cineasta espanhol, Hable con ella e Los Abrazos rotos foram os que mais me emocionaram.
   Já indiquei duas produções hollywoodianas e achei que agora indicaria uma mexicana, devido o meu amor pelo México, porém, há alguns anos ando muito “flamenca”, muito “espanhola”, logo, não poderia deixar de mencionar pelo menos dois filmes espanhóis que me encantaram profundamente: por sua extrema carga poética em linguagem audiovisual e a presença de mulheres fortes, decididas, uma marca das produções de Almodóvar, um dos meus cineastas favoritos, depois de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Talvez seja o meu inconsciente que por tanto ter estudado a obra de um espanhol e que por tanto tempo ministrou aulas de tal idioma, acabou se interessando pela Espanha, por esse país tão enigmático. Ele tem um "q" que não entendo, que me intriga, que me atrai. 
    Mas vamos aos filmes, vale? Quanto ao premiadíssimo Hable con ella, Oscar de Melhor Roteiro Original (2003) e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro (2003), acredito que depois que cursei uma disciplina do Mestrado, “amor, paixão e ódio: as três paixões do ser” este filme veio à tona, afinal o que é amor? A paixão?  E o ódio? O que os une e os afasta? Há algum ponto de contato entre eles?No amor vale tudo?

Então, vamos ao primeiro filme, Hable con ella, que conta a história de dois personagens que não se conhecem, Benigno Martín (Javier Cámara) e Marco Zuluaga (Dario Grandinetti)  que se sentaram um do lado do outro, casualmente, numa sala de espetáculos para assistir “Café Muller” de Pina Bauch, interpretado pela própria. O filme já começa sob uma atmosfera de extrema poesia, com mulheres, se eu não me engano duas, vagueando por um café cheio de cadeiras, que parecem que vão tombar a qualquer momento, numa quase lenta agonia como se estivessem esperando a morte chegar.
Benigno é um dos enfermeiros responsáveis por uma paciente que está em coma profundo há vários anos (uma bailarina clássica de nome Alicia, interpretada por leonor Watling, que ele via ensaiar todos os dias, desde a janela de seu apartamento que dava de frente para o estúdio de ballet que ela dançava), e é nesse mesmo hospital que conhecerá Benigno que vela por sua namorada também em coma, a toureira Lydia Gonzáles (interpretada pela magnifica cantora espanhola Rosário Flores) que foi ferida por um touro em plena arena. 


   
Marco descobrirá do amor de Benigno por Alicia há anos, e também que sua própria namorada planejava deixá-lo para volta com um ex-namorado. Com isso, Almodóvar explora a relação entre o feminino e o masculino e o próprio amor, já que Benigno ao violar Alicia (em coma) a engravida, gera o feminino, mas com que direito? Alicia saí do coma, mas o bebê nasce morto, e Benigno na prisão, cumprindo pena pelo ato que havia feito em contra de Alicia, suicida-se ao ver que seu amor não é possível, enquanto que Marco assume a vida que sempre quis ter, apaixona-se por Alicia.


       Fica bem claro as questões morais que o filme levanta e que são de difícil resposta. O amor justifica o ato de Benigno? Seria ele um pervertido? E se Alice tivesse tomado conhecimento do que passou o teria perdoado? E Marco tinha o direito de se envolver com Alicia, vivendo a vida que Benigno sempre havia sonhado? A resposta fica a critério do espectador.
     


Já sobre Los Abrazos rotos, que assisti somente este ano em um canal de tv por assinatura, me emocionei muito com a história do escritor e ex diretor de cinema Mateo Blanc (Lluís Homar) que há 14 anos, na época em ainda usava o seu nome verdadeiro, e trabalhava como roteirista, teve um grave acidente em Lanzarote que lhe fez perder a visão e o seu grande amor, Lena (Penélope Cruz), uma atriz. Tamanho foi o seu pesar que ele passou a usar o nome e adotar a existência que tinha escolhido no mundo literário, Harry Caine, com o intuito de esquecer do seu passado como Mateo. Há um elemento chave: quando Lena morreu, deixou um filme inacabado, “Chicas y maletas”(uma espécie de auto-homenagem ao seu outro filme, Mujeres al borde de um ataque de nervios)  que fora estreado se a devida edição feita por Mateo, já que este e Lena haviam tido um caso, enquanto ela era casada com um dos empresários do filme, Ernesto Martel. Que para se vingar fez o filme estrear totalmente mal-editado. Entretanto, depois desses 14 anos, com a ajuda de sua antiga e fiel diretora de produção Judit Garcia (Portillo) e de Diego, filho desta, seu secretário, as tomadas devidamente corrigidas foram parar novamente nas mãos de Mareo, podendo fazer  jus aquela última obra, em que aparecia a sua querida amada Lena.


 

   Não há humor e intriga um marca nos filmes de Almodóvar, mas muito melodrama, o que talvez tenha me chamado a atenção e tenha feito com que eu gostasse muito deste filme, depois da decepção que para mim foi Volver. Sim, não gostei desse filme, mas sei que muitos o consideram uma obra- prima assim como Hable con ella. Entretanto, gosto é assim, não se discute, há que respeitar a opinião, como se fiz em espanhol "los gustos están para los colores", o que não se pode é nem ver determinado filme, nem ler determinado livro, por exemplo,  e já criticar, dizer que não gosta. Sempre opto por assistir e daí tirar a minha conclusão.


       Por tal motivo, indico não somente Hable con ella e Los Abrazos rotos, mas também os demais filmes de Almodóvar, apesar de dar destaque aos que mencionei neste post. Almodóvar é um grande cineasta que sempre traz mulheres protagonistas,  fortes, a intriga mas sem perder o humor, e por que não o melodrama mas sem parecer piegas. Sempre vejo no final de cada filme seu uma “moral”, melhor dizendo, uma reflexão sobre o que foi contado ao longo da obra.



Fica aqui mais esta #SuperDica.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dica de livro: Rivera, de Andrea Kettenmann

 Rivera, de Andrea Kettenmann é a minha dica de livro desta semana. Alguns posts atrás, eu falei um pouco sobre a grandiosa Frida Kahlo, uma das minhas pintoras favoritas, e agora comento também sobre o gênio Diego Rivera (1886-1957), um dos meus pintores favoritos. 


  Comprei o livro Rivera há alguns anos, pois sempre me interessei muito pela cultura e pela história mexicana,   principalmente a pré-colombina (tão bem retratada por Diego em seus murais), logo, não poderia deixar de ter em mãos este livro que apresenta grande parte das obras de Diego Rivera. 
  Uma obra que se divide em uma fase “Estridentista” ( movimento vanguardista mexicano que trazia a cultura popular e de massa do país dos anos de 1920, ao mesmo tempo que assimilava influências de outras vanguardas como o futurismo, o cubismo e o dadaísmo), e posteriormente, e a que obteve mais êxito e projeção internacional, a sua fase “Muralista”, sendo um dos principais nomes deste movimento que se deu no México, Pós-Revolução Mexicana.


   Mas o que foi o Muralismo Mexicano? Para explicá-lo, preciso comentar brevemente sobre a Revolução Mexicana (inicio em 1910 e término, possivelmente em 1917 com a proclamação da Constituição do México) que foi uma luta do povo contra os seus exploradores, contra os resíduos do colonialismo e contra os grandes latifundiários herdeiros dos conquistadores espanhóis. Desde o primeiro momento estiveram na luta os intelectuais progressistas e os artistas, que queriam devolver o esplendor da antiga civilização brutalmente massacrada e, ao mesmo tempo, fazer do México uma nação moderna. Com o término da Revolução, os primeiros governos buscaram a colaboração de artistas para a formação cultural do povo. Pela primeira vez com a ajuda do governo, um movimento artístico, o Muralismo Mexicano, desenvolvia-se com uma orientação ideológica precisa: eles queriam que a arte moderna despertasse no povo a criatividade da antiga cultura mexicana tão rica em detalhes. Para isso escolheram as formas mais apropriadas para colocar essas obras dos artistas ao alcance de todos: os grandes murais e gravuras.


   Houve outros pintores como José Clemente Orozco, que também tem uma vastíssima e belíssima obra que vale a pena conhecer, entretanto, destaco Diego Rivera e seus murais espalhados não só em sua terra natal mas pelo mundo.
    Voltando ao livro de Andrea Kettenmann, ele se divide em 7 capítulos, no qual mostra o ciclo de vida do artista, desde o seu nascimento até a sua morte.
    Se você ama a arte, fica mais esta #SuperDica!


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Super Dica de filme: "Sociedade dos poetas mortos"

Hoje vou indicar o filme "Sociedade dos poetas mortos" lançado em 1989, um pouco já antigo, mas que continua sendo muito atual e que adoro assisti-lo sempre que é transmitido na tv, pois como professora, ela me dá muita inspiração de seguir com um trabalho como o de este professor do filme.
O filme é ambientado no ano de 1959, na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura. Entretanto, nem tudo são flores, pois os seus métodos inovadores de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos, a se tornaram reflexivos, cria um choque com a tradicionalíssima direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".Uma espécie de reunião, de encontro entre alunos, no qual se lê e discute diversas obras literárias, justamente incentivando os alunos a pensarem, a refletir sobre a literatura e sobre a sua própria vida. 
   "Sociedade dos poetas mortos" de certo modo critica a pedagogia tradicional, pautada em métodos repetitivos e na figura central do professor que literalmente "bombardeia" os alunos com inúmeras informações sobre determinado conteúdo a ser ensinado, e sem permitir a voz dos alunos, a sua participação também ativa no processo de ensino-aprendizagem. 
   O filme fala de uma Educação com "E" em maiúsculo, onde o aluno é capaz de aprender a pensar, a refletir e, mais que isso, sentir a vida como um presente, como um momento mágico. Os alunos da escola Welton Academy eram completamente desmotivados e com a chegada deste inovado professor eles mudam completamente, demonstrando a importância do professor como Educador, como aquele que não somente ensina determinado conteúdo mas educa para a vida, ajuda os alunos a se tornarem cidadãos, conscientes de seu papel no mundo em que vivem.
Fica aqui essa #SuperDica !

terça-feira, 28 de maio de 2013

Frida Kahlo

   Como falar sobre Frida Kahlo em um simples post? Uma tarefa bem difícil. Acredito que seria necessário muitos, milhares, para pelo menos chegar um pouquinho a altura desta artista que tanto admiro. Para quem não a conhece, Frida Kahlo (Coyoacán, 6 de julho de 1907 — Coyoacán, 13 de julho de 1954) foi uma pintora mexicana que alguns teóricos a consideram como expressionista, devido as cores saturadas e vibrantes,  porém, acredito que ela ultrapassou esta estética, transformando em algo novo, devido os seus autorretratos. 
    Vale destacar que André Breton, poeta francês e teórico do movimento surrealista, em 1939 qualificou a obra de Frida como pertencente a tal movimento, para uma exposição que aconteceu em uma famosa galeria de Nova York. Frida, entretanto, disse: " pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade". Uma mostra clara de que sua obra é totalmente original e não se detinha a nenhuma corrente artística específica.

  Sabe,  desde que vi o filme “Frida”( interessada em saber quem era aquela pintora que tanto se autorretratava, que usava cores tão fortes, motivos tão mexicanos, e todo aquele amor por um dos mais famosos artistas do Muralismo Mexicano, Diego Rivera)  e conheci a sua história de vida, marcada por muita dor, pois aos 6 anos contraiu poliomelite que a deixou com uma lesão no pé esquerdo, e depois, aos 18 anos, sofreu um terrível acidente  que deixaria terríveis sequelas em sua coluna para o resto de seus dias, passei a admirá-la ainda mais, e a entender os seus quadros que para mim são sinônimos de poesia.
  Frida nos conta através daqueles autorretratos todas suas inquietações, dores, amores, alegrias, todos os sentimentos humanos. É impossível não se comover com os quadros....não sentir a sua dor diante da perda de um filho que tão desejava ter....diante da traição e do abandono de Diego Rivera, o seu grande amor...é impossível as lágrimas não caírem na cena do filme em que aparece a saudosa e cantora mexicana Chavela Vargas interpretando a emblemática canção mexicana “La llorona”. Nossa, é de se arrepiar por inteiro. Por isso quando escrevia o meu livro “Un viaje mítico por el ombligo de la luna”, onde me propus em recontar a história do México (esse país que tanto amo) desde o México pré-colombino até os dias atuais, não pude deixar de dedicar um poema esta mulher de fibra, a esta super artista que é Frida Kahlo.
  Quem não se lembra daquela música de Adriana Calcanhoto, Esquadros  "Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores, que eu não sei o nome. Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores!".... E anos depois com a chegada da internet eu conheceria a arte de Frida que jamais sairia do meu coração.
     Certamente, voltarei a falar sobre esta grande pintora, pois está acontecendo no CCBB uma exposição com pintoras femininas e um dos quadros de Frida está sendo exposto, logo, não poderei deixar de ir lá e conferir
     Por último, fica mais esta #SuperDica de dois 2 livros que para mim são essenciais aos que amam a arte como eu, e que querem conhecer um pouco da obra da grande artista Frida Kahlo. E também, a  última edição da Revista Bravo, que a traz como capa. 



sexta-feira, 24 de maio de 2013

"A música, antes de qualquer coisa" - Paul Verlaine


   Aproveitando esse tempinho de chuva e de frio, bem a cara do outono, um céu cinzento em que vez ou outra o sol tenta se abrir mas não consegue, devido a presença de inúmeras nuvens que vão se multiplicando, multiplicando até despejarem a chuva esperada, dedico este post a um dos movimentos artísticos que mais me encanta e que acho que tem mais haver comigo: o Simbolismo. Muitos de vocês já devem ter ouvido falar deste movimento artístico, pelo menos no Ensino Médio, onde nas aulas de Literatura, estudamos diversas correntes literárias, como o romantismo, o realismo-naturalismo, e o simbolismo,entre outras. Mas o que representou o Simbolismo na Literatura e na Arte? Qual sua relação com a música? Por que se deu este movimento? Quando ele surgiu? Este movimento chegou ao Brasil? Muitas perguntas que vou tentar responder aos que já se esqueçam ou os que nunca estudaram este universo das sensações.
  Primeiro, precisamos saber que o Simbolismo foi um movimento artístico  que abrangeu a música, a pintura e a literatura, nascido na França, por volta de 1880. Movimento este, antipositivista, antinaturalista e anticientificista, ao contrário das demais correntes materialistas e racionalistas como o Realismos Naturalismo e o Parnasianismo.
  Contextualizando o momento em que se originou e desenvolveu o Simbolismo, descobre-se que ele conviveu com o período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial (1911-1918) e também o pré-modernismo, que se anunciava em 1902. Um período em que todos aqueles ideais culminaram por gerar o primeiro e grande conflito mundial, e como aconteceu com o Romantismo que reagiu diante da crise do Iluminismo, os Simbolistas reagiram contra as correntes analíticas dos meados do século, em que a coisa e o fato triunfavam sobre o sujeito, buscando reconquistar o sentimento de totalidade. E ao mesmo tempo em que valorizavam o mundo interior e o espiritual.
   Os simbolistas, no entanto, conseguiram ir mais além dos Românticos, atingindo a camadas do inconsciente e do subconsciente. O símbolo considerado um elemento importante na fala humana, pois a linguagem verbal se iniciou pela linguagem dos símbolos,e também originalmente preso a contextos religiosos, passa a exprimir a evocação, principalmente as mais abstratas, as aspirações e os impulsos dos instintos humanos.
   A poesia deve apresentar-se por meio de sugestões, fazendo uso de uma linguagem indireta (vaga, imprecisa) e figurada, sugerindo conteúdos emotivos e sentimentais sem, entretanto, narrá-los ou descrevê-los. Por isso o uso intenso de reticências e de pausas, nos poemas simbolistas, que indicam esse “não dizer” ou o próprio “nada”.
 É desse pressuposto que surge a teoria das correspondências. Teoria esta, introduzida  pelo poeta francês Charles Baudelaire na obra Flores do mal (1855), na qual, tudo no mundo tem correspondências entre si e pode ser explícito através de símbolos.
   Paul Verlaine, outro poeta francês, pregara a aproximação da poesia com a música, “antes de qualquer coisa, música”, logo, ao que diz respeito à versificação ela é despojada daquele formalismo tradicional, que foi adotado até o extremo pelos Parnasianos em busca da “arte pela arte”, e transformada em “uma arte absolutamente livre”. No lugar das regras e das alternâncias de rimas, encontram-se as assonâncias, e assim a musicalidade e obtida, gerando uma sonoridade capaz de provocar emoção. Ou seja, para os simbolistas, a música estava em primeiro lugar, por isso o uso frequente do estribilho, do deslocamento voluntário de elementos da frase, com proposições e palavras intercaladas, silepses, inversões, aliterações. A liberdade era tanta, que os poetas recorriam a arcaísmos, a nomes próprios, e até introduziam em seus versos, neologismos.
  Um pouco mais sobre o poeta Paul Verlaine (1844-1896) pelo seu poema Arte Poétique, de 1885, no qual o verso “De la musique avant tout chose”- a música antes de qualquer coisa” que abre tal poema, é considerado um verdadeiro manifesto da poesia simbolista. O poeta de fato colocou a música acima de tudo, pois ele queria um versos fuido, rítimico,solúvel no ar, a exemplo da belíssima “Chanson d’ Automme” – Canção de Outono, publicada em Poemes Saturniens (Poemas Saturninos), de 1866, em que a música está tão entranhada neste poema que é quase impossível uma tradução ao pé-da-letra. Entretanto, há há algumas versões de Chanson d’ Automme, entre elas, destaco a do poeta Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), representante do simbolismo no Brasil.
               
CHANSON D'AUTOMNE

          Paul Verlaine

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

CANÇÃO DO OUTONO

          Tradução: Alphonsus de Guimaraens

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh'alma
Num langor de calma
E sono.

Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido...

  Bem, se eu disse que Alphonsus de Guimaraes é um dos representantes do simbolismo no Brasil, logo, vemos que este movimento também chegou ao país. Entretanto, voltando ainda aos europeus, os artistas dessa corrente literária foram chamados por seus contemporâneos, de “decadentistas”, por seu desencanto pelo mundo, pela matéria, e também de um grupo que representantes da volta do “mal do século”, do romantismo. Isto se explica pelo retorna da valorização do amor, morte, sonho, pessimismo diante do mundo real, porém, aprofundando mais esses sentimentos, já que o viam como um estado de sublimação, e da própria libertação da matéria.

Poeta viageiro - Gustave Moreau
E saindo um pouquinho do mundo literário, em que reinava na Europa, Stépnhae Mallarmé, que estimulou enormemente os poetas simbolistas, como Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Paul Verlaine; e chegando ao mundo das artes pásticas, destaco o pintor francês Gustave Moreau. Este, que se tornou célebre por ser um dos principais impulsionadores da arte simbolista do século XIX.
   Por último, comento sobre o Simbolismo no Brasil, que se deu em um ambiente de lutas sangrentas iniciadas em 1893, no Rio Grande do Sul, chegando a outros estados brasileiros, pela insatisfação com a recém-inaugurada República.Um período, como podemos ver, também marcado de frustrações  angústias e falta de perspectivas. Seus representantes foram Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraes. O primeiro é considerado, pelos teóricos, como a figura mais importante do Simbolismo brasileiro, já que se impôs desde logo como “chefe” desse novo movimento, tendo sua obra Missal (1893) –poema em prosa -, e Broquéis (1893) –poesia, como os inauguradores deste movimento aqui no país. E o segundo, preferiu manter-se fiel a um “triângulo” que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o mais místico poeta da literatura brasileira, pois se Cruz e Sousa é visto como o “poeta solar”, Alphonsus de Guimaraens é visto como o “poeta lunar”. 
   E confesso que um dos meus poetas favoritos, também pelo fato de sua profunda religiosidade e devoção a Santa Terezinha e Nossa Senhora, a exemplo da obra O setenário das Dores de Nossa Senhora (1899). Nesta obra o poeta atesta sua devoção pela Virgem, em que as dores da Nossa Senhora é cantada em sonetos.  E saindo um pouquinho do mundo literário, em que reinava na Europa, Stépnhae Mallarmé, que estimulou enormemente os poetas simbolistas, como Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Paul Verlaine; e chegando ao mundo das artes pásticas, destaco o pintor francês Gustave Moreau. Este, que se tornou célebre por ser um dos principais impulsionadores da arte simbolista do século XIX.

VI

De luar vestido, o fúlgido semblante
entre bastos cabelos irisados,
e sobre o flanco a túnica irradiante
que eram nesgas de céus nunca sonhados.

Os seus olhos de poente e de levante
em silêncios de luz ilimitados;
era o celeste Cavaleiro andante,
Anunciador de místicos Noivados...

E que Noivado o seu! Nuvens radiosas
cercando o Mensageiro ativo e doce,
debaixo de amplo céu de seda e rosas...

E dentro das olheiras cor-de-goivo,
o olhar da Virgem santa eternizou-se:
O Espírito de Deus era o seu Noivo...

Agora, deixo um poema muito emblemático de Alphonsus de Guimaraes:


A Catedral
Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

  Enfim, espero que esse breve resumo sobre este movimento literário tão místico, tão musical, talvez o único que tenha conseguido resgatar a união intrínseca entre a música e poesia que se perdeu ao longo dos séculos, por a poesia ficar restrita a elite e a música as massas, esquecendo-se de que  as duas se originaram juntas, com a poesia sendo escrita para ser recitada e ser acompanhada da lira, daí o nome “gênero lírico”, fica a #SuperDica para que vocês leiam pelo menos um desses poetas simbolistas e se deixam levar por este “universo das sensações” e da extrema musicalidade de seus versos.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Magistral Machado de Assis


   Como este blog tem o objetivo de dar dicas culturais, seja sobre música, sobre as artes plásticas, cinema, televisão, e  literatura, não posso deixar de dedicar um post a um dos maiores escritores da língua portuguesa de todos os tempos: o magistral Machado de Assis. Aquele autor que somos “obrigados” a ler no Ensino Médio, justamente naquela fase “punk”, a adolescência. Digo fase “punk” porque aos 15,16, 17 anos é complicado entender toda a poética machadiana, sei que com o vestibular, é necessário mais ainda conhecer a obra de escritores como Machado, pois sempre aparece nos exames, mas sei também, que pelo menos eu, tive dificuldades na minha primeira leitura de “Dom casmurro”. Uma dificuldade que foi sendo sanada no avançar da leitura, um romance instigante, que “puxa” o leitor para aqueles personagens, para aquele ambiente de dúvida, reinado pela eterna pergunta: será que Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Inclusive, quando reli Dom Casmurro durante o Curso de Letras, lembrei dessa minha primeira leitura, e de um seminário que fiz (na época da escola) sobre o livro em questão. Um grupo de 5 pessoas, e  eu é que era a última a falar e que dava o parecer do grupo sobre o livro, e eu dizia que sim, Capitu havia traído Bentinho por A+B, tudo indicava que sim, confirmando minha afirmação categórica com citações retiradas do romance. Porém, já na faculdade, percebi que Machado queria muito mais que isso, que a traição não seria o cerne da narrativa, mas talvez uma reflexão sobre aquele personagem tão fechado em si mesmo, que poderia e por quê não, ter criado em sua mente todos aqueles indícios da suposta traição de sua mulher com o seu melhor amigo, Escobar, devido a tal personalidade tão peculiar, mas também tão humana.  Quem nunca conheceu alguém assim, tão discreto, tão fechado. Enfim, este post não tem o intuito de fazer um estudo minucioso sobre a poética machadiana, mas simplesmente comentar o meu parecer sobre este escritor tão importante para a nossa literatura, e um dos escritores mais conhecidos e estudados de todo o mundo.


   Machado não foi somente um romancista de primeira linha, do período considerado como o Realismo, mas também um grande contista. Escreveu quase 200 contos, o que o situa –pela qualidade do que escreveu- entre os melhores contistas mundiais. Houve também uma evolução, segundo os estudos machadianos, do escritor a partir de suas histórias românticas, leves, para histórias mais densas, mais integrantes. Mas o que é um conto? Qual a sua diferença para um romance?
  Então, vamos lá....Dizem que a construção de um conto é muito mais difícil do que a construção de um romance porque o conto: é uma narrativa curta e que deve prender a atenção do leitor; deve ter somente um conflito e este tem de ser muito interessante; deve conduzir o leitor para um único efeito, provocando tensão na leitura; deve manter sempre um perfeito equilíbrio narrativo; trabalhar com poucas personagens, em tempo exíguo, em pequenos espaços.  E Machado soube manejar extraordinariamente essas regras, o que o tornaria também um grande contista.
  E o Machado romancista e Machado contista tem algo em comum? Sim, as personagens fortes,  em sua grande maioria, mulheres, e guardam como nos romances as ambiguidades típicas do universo feminino; e os temas psicológicos, pois o autor sempre procura explicar a alma humana. O que faz de seus contos uma espécie de miniatura do seu modo de interpretar a sociedade.

Sobre a Fundação da Academia Brasileira de Letras:

   A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, por Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira, inspirados na Academia Francesa, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e,principalmente,a literatura nacional. Machado foi eleito primeiro presidente da Academia por unanimidade, e no discurso inaugural aconselhou as presentes: : "Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira

  Fica mais esta #SuperDica para você que nunca leu Machado de Assis ou  a você que somente o leu na adolescência e não conseguiu fisgar a importância deste grande escritor para a nossa literatura.

  Ah e um detalhe: Depois que reli o Dom Casmurro na faculdade, acabei lendo mais alguns de seus tantos romances, como Memórias póstumas de Brás Cubas (o primeiro grande romance realista no Brasil, publicado em 1881 e instaurando o Realismo no país, ao lado de O mulato de Aluísio de Azevedo que instaurou o naturalismo respectivamente), Quincas Borbas, e a uma recompilação de algum de seus contos. Ou seja, acabei me tornando mais uma apreciadora da poética machadiana.

A vastíssima obra de Machado de Assis:

Romances

·         Ressurreição, (1872)
·         A mão e a luva, (1874)
·         Helena, (1876)
·         Iaiá Garcia, (1878)
·         Memórias Póstumas de Brás Cubas, (1881)
·         Casa Velha, (1885)
·         Quincas Borba, (1891)
·         Dom Casmurro, (1899)
·         Esaú e Jacó, (1904)
·         Memorial de Aires, (1908)

·         Hoje Avental, Amanhã Luva, (1860)
·         Desencantos, (1861)
·         O Caminho da Porta, (1863)
·         O Protocolo, (1863)
·         Teatro, (1863)
·         Quase Ministro, (1864)
·         Os Deuses de Casaca, (1866)
·         Tu, só tu, puro amor, (1880)
·         Não Consultes Médico, (1896)
·         Lição de Botânica, (1906)

Traduções
·         Queda que as mulheres têm para os tolos, (1861).

Coletânea de Poesias
·         Crisálidas, (1864)
·         Falenas, (1870)
·         Americanas, (1875)
·         Ocidentais, (1880)
·         Poesias Completas, (1901)

Contos selecionados
·         "A Cartomante"
·         "Miss Dollar"
·         "O Alienista" (†)
·         "Teoria do Medalhão"
·         "A Chinela Turca"
·         "Na Arca"
·         "D. Benedita"
·         "O Segredo do Bonzo"
·         "O Anel de Polícrates"
·         "O Empréstimo"
·         "A Sereníssima República"
·         "O Espelho"
·         "Um Capricho"
·         "Brincar com Fogo"

Coletânea de contos
·         Contos Fluminenses, (1870)
·         Histórias da Meia-Noite, (1873)
·         Papéis Avulsos, (1882)
·         Histórias sem Data, (1884)
·         Várias Histórias, (1896)
·         Páginas Recolhidas, (1899)
·         Relíquias da Casa Velha, (1906)

Contos selecionados
·         "Uma Visita de Alcibíades"
·         "Verba Testamentária"
·         "Noite de Almirante"
·         "Um Homem Célebre"
·         "Conto de Escola"
·         "Uns Braços"
·         "A Cartomante"
·         "O Enfermeiro"
·         "Trio em Lá Menor"
·         "O Caso da Vara"
·         "Missa do Galo"
·         "Almas Agradecidas"
·         "A Igreja do Diabo"