Como este blog tem o objetivo de dar dicas culturais, seja
sobre música, sobre as artes plásticas, cinema, televisão, e literatura, não posso deixar de dedicar um
post a um dos maiores escritores da língua portuguesa de todos os tempos: o
magistral Machado de Assis. Aquele autor que somos “obrigados” a ler no Ensino
Médio, justamente naquela fase “punk”, a adolescência. Digo fase “punk” porque
aos 15,16, 17 anos é complicado entender toda a poética machadiana, sei que com
o vestibular, é necessário mais ainda conhecer a obra de escritores como
Machado, pois sempre aparece nos exames, mas sei também, que pelo menos eu,
tive dificuldades na minha primeira leitura de “Dom casmurro”. Uma dificuldade
que foi sendo sanada no avançar da leitura, um romance instigante, que “puxa” o
leitor para aqueles personagens, para aquele ambiente de dúvida, reinado pela
eterna pergunta: será que Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Inclusive, quando reli Dom Casmurro durante o Curso de Letras,
lembrei dessa minha primeira leitura, e de um seminário que fiz (na época da
escola) sobre o livro em questão. Um grupo de 5 pessoas, e eu é que era a última a falar e que dava o
parecer do grupo sobre o livro, e eu dizia que sim, Capitu havia traído Bentinho por A+B, tudo indicava que sim, confirmando minha afirmação categórica
com citações retiradas do romance. Porém, já na faculdade, percebi que Machado
queria muito mais que isso, que a traição não seria o cerne da narrativa, mas
talvez uma reflexão sobre aquele personagem tão fechado em si mesmo, que poderia
e por quê não, ter criado em sua mente todos aqueles indícios da suposta
traição de sua mulher com o seu melhor amigo, Escobar, devido a tal
personalidade tão peculiar, mas também tão humana. Quem nunca conheceu alguém assim, tão
discreto, tão fechado. Enfim, este post não tem o intuito de fazer um estudo
minucioso sobre a poética machadiana, mas simplesmente comentar o meu parecer
sobre este escritor tão importante para a nossa literatura, e um dos escritores
mais conhecidos e estudados de todo o mundo.
Machado não foi somente um romancista de primeira linha, do
período considerado como o Realismo, mas também um grande contista. Escreveu
quase 200 contos, o que o situa –pela qualidade do que escreveu- entre os
melhores contistas mundiais. Houve também uma evolução, segundo os estudos
machadianos, do escritor a partir de suas histórias românticas, leves, para
histórias mais densas, mais integrantes. Mas o que é um conto? Qual a sua
diferença para um romance?
Então, vamos lá....Dizem que a construção de um conto é muito
mais difícil do que a construção de um romance porque o conto: é uma narrativa
curta e que deve prender a atenção do leitor; deve ter somente um conflito e
este tem de ser muito interessante; deve conduzir o leitor para um único
efeito, provocando tensão na leitura; deve manter sempre um perfeito equilíbrio
narrativo; trabalhar com poucas personagens, em tempo exíguo, em pequenos
espaços. E Machado soube manejar
extraordinariamente essas regras, o que o tornaria também um grande contista.
E o Machado romancista e Machado contista tem algo em comum? Sim,
as personagens fortes, em sua grande
maioria, mulheres, e guardam como nos romances as ambiguidades típicas do
universo feminino; e os temas psicológicos, pois o autor sempre procura
explicar a alma humana. O que faz de seus contos uma espécie de miniatura do
seu modo de interpretar a sociedade.
Sobre a Fundação da Academia Brasileira de Letras:
A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, por Medeiros
e Albuquerque, Lúcio de Mendonça e o grupo de intelectuais da Revista
Brasileira, inspirados na Academia Francesa, junto ao entusiasmado e apoiador
Machado de Assis, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e,principalmente,a
literatura nacional. Machado foi eleito primeiro presidente da Academia por
unanimidade, e no discurso inaugural aconselhou as presentes: : "Passai aos vossos sucessores o pensamento
e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa
obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira
Fica mais esta #SuperDica para você que nunca leu Machado de
Assis ou a você que somente o leu na
adolescência e não conseguiu fisgar a importância deste grande escritor para a
nossa literatura.
Ah e um detalhe: Depois que reli o Dom Casmurro na
faculdade, acabei lendo mais alguns de seus tantos romances, como Memórias
póstumas de Brás Cubas (o primeiro grande romance realista no Brasil,
publicado em 1881 e instaurando o Realismo no país, ao lado de O mulato de
Aluísio de Azevedo que instaurou o naturalismo respectivamente), Quincas
Borbas, e a uma recompilação de algum de seus contos. Ou seja, acabei me tornando mais uma apreciadora da poética machadiana.
A vastíssima obra de Machado de Assis:
Romances
Traduções
Coletânea
de Poesias
Contos
selecionados
·
"A Cartomante"
·
"Miss Dollar"
·
"O Alienista"
(†)
·
"A Chinela Turca"
·
"Na Arca"
·
"D. Benedita"
·
"O
Empréstimo"
·
"O Espelho"
·
"Um Capricho"
·
"Brincar com Fogo"
Coletânea
de contos
Contos
selecionados
·
"Um Homem Célebre"
·
"Conto de Escola"
·
"Uns Braços"
·
"A Cartomante"
·
"O Enfermeiro"
·
"Trio em Lá Menor"
·
"O Caso da
Vara"
·
"Missa do Galo"
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