quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Magistral Machado de Assis


   Como este blog tem o objetivo de dar dicas culturais, seja sobre música, sobre as artes plásticas, cinema, televisão, e  literatura, não posso deixar de dedicar um post a um dos maiores escritores da língua portuguesa de todos os tempos: o magistral Machado de Assis. Aquele autor que somos “obrigados” a ler no Ensino Médio, justamente naquela fase “punk”, a adolescência. Digo fase “punk” porque aos 15,16, 17 anos é complicado entender toda a poética machadiana, sei que com o vestibular, é necessário mais ainda conhecer a obra de escritores como Machado, pois sempre aparece nos exames, mas sei também, que pelo menos eu, tive dificuldades na minha primeira leitura de “Dom casmurro”. Uma dificuldade que foi sendo sanada no avançar da leitura, um romance instigante, que “puxa” o leitor para aqueles personagens, para aquele ambiente de dúvida, reinado pela eterna pergunta: será que Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Inclusive, quando reli Dom Casmurro durante o Curso de Letras, lembrei dessa minha primeira leitura, e de um seminário que fiz (na época da escola) sobre o livro em questão. Um grupo de 5 pessoas, e  eu é que era a última a falar e que dava o parecer do grupo sobre o livro, e eu dizia que sim, Capitu havia traído Bentinho por A+B, tudo indicava que sim, confirmando minha afirmação categórica com citações retiradas do romance. Porém, já na faculdade, percebi que Machado queria muito mais que isso, que a traição não seria o cerne da narrativa, mas talvez uma reflexão sobre aquele personagem tão fechado em si mesmo, que poderia e por quê não, ter criado em sua mente todos aqueles indícios da suposta traição de sua mulher com o seu melhor amigo, Escobar, devido a tal personalidade tão peculiar, mas também tão humana.  Quem nunca conheceu alguém assim, tão discreto, tão fechado. Enfim, este post não tem o intuito de fazer um estudo minucioso sobre a poética machadiana, mas simplesmente comentar o meu parecer sobre este escritor tão importante para a nossa literatura, e um dos escritores mais conhecidos e estudados de todo o mundo.


   Machado não foi somente um romancista de primeira linha, do período considerado como o Realismo, mas também um grande contista. Escreveu quase 200 contos, o que o situa –pela qualidade do que escreveu- entre os melhores contistas mundiais. Houve também uma evolução, segundo os estudos machadianos, do escritor a partir de suas histórias românticas, leves, para histórias mais densas, mais integrantes. Mas o que é um conto? Qual a sua diferença para um romance?
  Então, vamos lá....Dizem que a construção de um conto é muito mais difícil do que a construção de um romance porque o conto: é uma narrativa curta e que deve prender a atenção do leitor; deve ter somente um conflito e este tem de ser muito interessante; deve conduzir o leitor para um único efeito, provocando tensão na leitura; deve manter sempre um perfeito equilíbrio narrativo; trabalhar com poucas personagens, em tempo exíguo, em pequenos espaços.  E Machado soube manejar extraordinariamente essas regras, o que o tornaria também um grande contista.
  E o Machado romancista e Machado contista tem algo em comum? Sim, as personagens fortes,  em sua grande maioria, mulheres, e guardam como nos romances as ambiguidades típicas do universo feminino; e os temas psicológicos, pois o autor sempre procura explicar a alma humana. O que faz de seus contos uma espécie de miniatura do seu modo de interpretar a sociedade.

Sobre a Fundação da Academia Brasileira de Letras:

   A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, por Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira, inspirados na Academia Francesa, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e,principalmente,a literatura nacional. Machado foi eleito primeiro presidente da Academia por unanimidade, e no discurso inaugural aconselhou as presentes: : "Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira

  Fica mais esta #SuperDica para você que nunca leu Machado de Assis ou  a você que somente o leu na adolescência e não conseguiu fisgar a importância deste grande escritor para a nossa literatura.

  Ah e um detalhe: Depois que reli o Dom Casmurro na faculdade, acabei lendo mais alguns de seus tantos romances, como Memórias póstumas de Brás Cubas (o primeiro grande romance realista no Brasil, publicado em 1881 e instaurando o Realismo no país, ao lado de O mulato de Aluísio de Azevedo que instaurou o naturalismo respectivamente), Quincas Borbas, e a uma recompilação de algum de seus contos. Ou seja, acabei me tornando mais uma apreciadora da poética machadiana.

A vastíssima obra de Machado de Assis:

Romances

·         Ressurreição, (1872)
·         A mão e a luva, (1874)
·         Helena, (1876)
·         Iaiá Garcia, (1878)
·         Memórias Póstumas de Brás Cubas, (1881)
·         Casa Velha, (1885)
·         Quincas Borba, (1891)
·         Dom Casmurro, (1899)
·         Esaú e Jacó, (1904)
·         Memorial de Aires, (1908)

·         Hoje Avental, Amanhã Luva, (1860)
·         Desencantos, (1861)
·         O Caminho da Porta, (1863)
·         O Protocolo, (1863)
·         Teatro, (1863)
·         Quase Ministro, (1864)
·         Os Deuses de Casaca, (1866)
·         Tu, só tu, puro amor, (1880)
·         Não Consultes Médico, (1896)
·         Lição de Botânica, (1906)

Traduções
·         Queda que as mulheres têm para os tolos, (1861).

Coletânea de Poesias
·         Crisálidas, (1864)
·         Falenas, (1870)
·         Americanas, (1875)
·         Ocidentais, (1880)
·         Poesias Completas, (1901)

Contos selecionados
·         "A Cartomante"
·         "Miss Dollar"
·         "O Alienista" (†)
·         "Teoria do Medalhão"
·         "A Chinela Turca"
·         "Na Arca"
·         "D. Benedita"
·         "O Segredo do Bonzo"
·         "O Anel de Polícrates"
·         "O Empréstimo"
·         "A Sereníssima República"
·         "O Espelho"
·         "Um Capricho"
·         "Brincar com Fogo"

Coletânea de contos
·         Contos Fluminenses, (1870)
·         Histórias da Meia-Noite, (1873)
·         Papéis Avulsos, (1882)
·         Histórias sem Data, (1884)
·         Várias Histórias, (1896)
·         Páginas Recolhidas, (1899)
·         Relíquias da Casa Velha, (1906)

Contos selecionados
·         "Uma Visita de Alcibíades"
·         "Verba Testamentária"
·         "Noite de Almirante"
·         "Um Homem Célebre"
·         "Conto de Escola"
·         "Uns Braços"
·         "A Cartomante"
·         "O Enfermeiro"
·         "Trio em Lá Menor"
·         "O Caso da Vara"
·         "Missa do Galo"
·         "Almas Agradecidas"
·         "A Igreja do Diabo"

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